HISTÓRIA, RAÇA E SOCIEDADE

NOTAS SOBRE DESCOLONIZAÇÃO E HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

Autores

Palavras-chave:

Historiografia Brasileira, Sociedade, Racismo epistêmico, Raça, Intelectualidades Negras

Resumo

O presente artigo é uma contribuição ao debate sobre as relações entre pensamento historiográfico, raça e sociedade no Brasil. A partir da constatação de que os nomes legitimados como cânones da Historiografia Brasileira são compostos primariamente por homens brancos, demarcação étnicorracial – e de gênero – que tem se reproduzido ao longo do tempo, procuro estabelecer algumas premissas teóricas para a sugestão de uma descolonização do campo historiográfico. Tal visão busca problematizar a produção de intelectuais negros – e de grupos sociais não hegemônicos de forma geral – no corpo de conhecimentos autorizados acerca da realidade histórica brasileira em suas conexões com marcadores sociais da diferença, especialmente raça, posto ser esta uma questão constituinte e estruturante da própria Historiografia Brasileira. Por fim, procuro pensar, baseado em Roger Bastide, no exercício de uma autopsicanálise intelectual, referente ao papel e à postura dos historiadores brancos na reflexão e reconstrução crítica do campo.

Biografia do Autor

Rafael Petry Trapp, Universidade Federal do Oeste da Bahia e Universidade do Estado da Bahia

Doutor em História pela UFF, Mestre em História pela PUCRS, com Licenciatura em História pela UNISC. Entre 2016 e 2017 realizou estágio de Doutorado Sanduíche no Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Columbia (NY). Desde 2009 realiza pesquisas sobre história afro-brasileira, com atenção particular à história do pensamento social negro no Brasil no século XX. Dedica-se ao estudo de intelectuais negros, relações raciais, historiografia brasileira, teoria da história, história do Brasil contemporâneo e história dos Estados Unidos. Possui especial interesse nas interfaces entre História e Educação das Relações Étnico-Raciais, com experiência docente na área de Formação de Professores.

Referências

AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento/Justificando, 2018.

BARBOSA, Muryatan S. Guerreiro Ramos e o personalismo negro. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – FFLCH-USP, São Paulo, 2004.

BASTIDE, Roger. As Américas negras: as civilizações africanas no Novo Mundo. Trad. de Eduardo de Oliveira e Oliveira. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1974 [1967].

BERGIN, Cathy; RUPPRECHT, Anita. Reparative histories: tracing narratives of black resistance and white entitlement. Race & Class, Londres, v. 60, n. 1, p. 22-37, 2018.

BOTELHO, André; SCHWARCZ, Lília. Um enigma chamado Brasil: 29 intérpretes e um país. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

BRESCIANI, Maria Stella Martins. O charme da ciência e a sedução da objetividade: Oliveira Vianna entre intérpretes do Brasil. São Paulo: Editora da UNESP, 2005.

CAMPOS, Deivison M. C. O Grupo Palmares (1971-1978): um movimento negro de subversão e resistência pela construção de um novo espaço social e simbólico. Dissertação (Mestrado em História) – PUCRS, Porto Alegre, 2006.

CANDIDO, Antonio. O significado de Raízes do Brasil. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Cia das Letras, 1995 [1967], p. 9-21.

CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese (Doutorado em Educação) – FEUSP, São Paulo, 2005.

COSTA, Joaze Bernardino; GROSFOGEL, Ramón. Decolonialidade e perspectiva negra. Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 15-24, jan./abr. 2016.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes: o legado da “raça branca”. Prefácio de Antonio S. A. Guimarães. 5. ed. São Paulo: Globo, 2008.

FIGUEIREDO, Ângela. Descolonização do conhecimento no século XXI. In: SANTIAGO, Ana R. et al. (Org.).

escolonização do conhecimento no contexto afro-brasileiro. Cruz das Almas (BA): Editora UFRB, 2017, p. 77-106.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FRANZINI, Fábio. Apresentação. História da Historiografia, Ouro Preto, n. 22, p. 11-14, dez. 2016.

GOMES, Flávio. Reflexões e projetos: para um pensamento negro nos séculos XIX-XXI (Apresentação). Revista da ABPN, Goiânia, v. 10, n. 25, p. 6-7, mar./jun. 2018.

GOMES, Nilma Lino. Movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.

______. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v. 12, n. 1, p. 98-109, jan./abr. 2012.

GRUPO de Trabalho André Rebouças. II Semana de Estudos Sobre o Negro na Formação Social Brasileira. Niterói: UFF, 1976.

GUIMARÃES, Antonio S. A. Classes, raças e democracia. São Paulo: Ed. 34, 2002. hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2017.

MARTINS, Sandra. O GTAR (Grupo de Trabalhos André Rebouças) na Universidade Federal Fluminense: memória social, intelectuais negros e a universidade pública (1975-1995). Dissertação (Mestrado em História Comparada) – UFRJ, Rio de Janeiro, 2018.

NASCIMENTO, Maria Beatriz. Por uma História do Homem Negro. In: RATTS, Alex. Eu sou Atlântica: sobre a Trajetória de Vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial/Kuanza, 2007, p. 93-8.

NICODEMO, Thiago; SANTOS, Pedro; PEREIRA, Mateus. Uma Introdução à História da Historiografia Brasileira (1870-1970). Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2018.

OLIVEIRA, Eduardo de Oliveira e. Etnia e Compromisso Intelectual, 1977b. São Carlos: Coleção Eduardo de Oliveira e Oliveira/UEIM-UFSCAR, Série Produção Intelectual.

______. Roger Bastide – um aliado. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 20, p. 137-40, 1978.

______. Uma Quinzena do Negro. In: ARAÚJO, Emanoel (Curador). Para nunca esquecer: negras memórias, memórias de negros. Brasília: MINC, 2001 [1977b].

PEREIRA, Amilcar A. O Mundo Negro: a constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil (1970-1995). Tese (Doutorado em História) – UFF, Niterói, 2013.

PERICÁS, Luiz; SECCO, Lincoln (Org.). Intérpretes do Brasil: clássicos rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires, CLACSO, 2005, p. 227-278.

RAMOS, Alberto Guerreiro. O problema do negro na sociologia brasileira. Cadernos do Nosso Tempo, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 189-220, jan./jun. 1954.

RATTS, Alex. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial/Kuanza, 2007.

REIS, José Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 9 ed. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2008 [1999].

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Justificando, 2017.

SCHWARCZ, Lília M. Pensamento social brasileiro, um campo vasto ganhando forma. Lua Nova, São Paulo, n. 82, p. 11-16, 2011.

SILVA, Nádia M. C. Universidade no Brasil: colonialismo, colonialidade e descolonização numa perspectiva negra. Revista Interinstitucional Artes de Educar, Rio de Janeiro, v. 3, n. 3, p. 233-257, out./2017 – jan./2018.

SLENES, Robert. A Importância da África para as Ciências Humanas. História Social, Campinas, n. 19, p. 19-32, 2010.

TRAPP, Rafael. O Elefante Negro: Eduardo de Oliveira e Oliveira, raça e pensamento social no Brasil. Tese (Doutorado em História). UFF, Niterói, 2018

Downloads

Publicado

2019-12-31

Como Citar

TRAPP, R. P. HISTÓRIA, RAÇA E SOCIEDADE: NOTAS SOBRE DESCOLONIZAÇÃO E HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 52–78, 2019. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/59414. Acesso em: 29 mar. 2024.