PENSAR O TEMPO PARA CONSTRUIR UM MÉTODO: A DESCONTINUIDADE HISTÓRICA EM GASTON BACHELARD

Autores

Palavras-chave:

Descontinuidade histórica, Multiplicidade do tempo, Gaston Bachelard, Método, Epistemologia Histórica

Resumo

Neste artigo, propomos uma reflexão sobre o estatuto epistemológico da descontinuidade histórica na obra de Gaston Bachelard. Em meados do século passado, notadamente a partir da obra de Georges Canguilhem, a abordagem descontinuísta já havia se transformado em um procedimento, entre outros, integrado à história das ciências por exigência dos objetos específicos selecionados pelo historiador. No entanto, inicialmente, isto é, na obra de Bachelard, a “hipótese da descontinuidade e da multiplicidade do tempo” foi pensada a partir de seu duplo caráter historiográfico e transcendental. Neste artigo, mostramos que as críticas de Bachelard a autores como Comte e Émile Meyerson denunciavam a solidariedade entre as teorias do conhecimento que defendiam uma continuidade entre espírito científico e senso comum e as teorias continuístas da história da ciência – que defendiam que o conhecimento científico se formava progressivamente por acúmulo a partir da experiência comum. Por fim, mostramos que o valor epistemológico da reflexão sobre o tempo histórico em Bachelard é determinado pela transformação que ele provoca na noção de “método” em relação àquela que vigorava na filosofia e na historiografia das ciências do século XIX e início do século XX.

Biografia do Autor

Tiago Santos Almeida, Universidade Federal de Goiás.

Professor Colaborador e bolsista do Programa Nacional de Pós Doutorado (PNPD) da CAPES junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás, onde é responsável pelas disciplinas "História e Historiografia das Ciências" (Graduação) e "Historiografia e epistemologia: o problema da objetividade" (Pós-Graduação). Possui Doutorado (2016) e Mestrado (2011) em História (linha de pesquisa "História da Ciência e da Técnica" - cf. "Outras informações relevantes") pela Universidade de São Paulo e Licenciatura em História (2006) pela Universidade Federal de Sergipe. Entre março de 2014 e março de 2015, realizou estágio doutoral de pesquisa no Centre de Philosophie Contemporaine da Université Paris 1 - Panthéon-Sorbonne, sob a supervisão de Jean-François Braunstein. É autor do livro "Canguilhem e a gênese do possível: estudo sobre a historicização das ciências" (São Paulo: Ed. Liber Ars, 2018) e organizador do livro DASTON, Lorraine. "Historicidade e Objetividade". São Paulo: Ed. Liber Ars, 2017. - (Coleção Epistemologia Histórica). Editor Associado de "Transversal: International Journal for the Historiography of Science". Coordenador científico da coleção "Epistemologia Histórica", da Editora Liber Ars. Integra a rede internacional de pesquisa "Épistémologie Historique (Research Network on the Traditions and Methods of Historical Epistemology)". É membro do Grupo de Pesquisa EPISTATHAI - Epistemologia e História Comparada das Ciências Humanas (UFF/CNPq), coordenado por Francine Iegelski (UFF) e Maurício de Carvalho Ramos (USP). Membro do Comitê Científico-Editorial da editora Liber Ars (São Paulo). Atua na área de História, com ênfase nas seguintes áreas: Historiografia das Ciências; Epistemologia Histórica; História do Pensamento Científico; História dos Ideais e Práticas de Racionalidade; História e Filosofia das Ciências da Vida e da Medicina.

Referências

ALMEIDA, Fábio Ferreira de. “Nota à tradução de ‘A continuidade e a multiplicidade temporais’”. In: SALOMON, Marlon (org.). Heterocronias –Estudos sobre a multiplicidade dos tempos históricos. Goiânia: Edições Ricochete, 2018, pp. 366-375.

ALMEIDA, Tiago Santos. Canguilhem e a gênese do possível. Estudo sobre a historicização das ciências. São Paulo: Editora Liber Ars, 2018. –(Coleção Epistemologia Histórica).

BACHELARD, Gaston. “A continuidade e a multiplicidade temporais” [Trad. de Fábio Ferreira de Almeida]. In: SALOMON, Marlon (org.). Heterocronias –Estudos sobre a multiplicidade dos tempos históricos. Goiânia: Edições Ricochete, 2018, pp. 337-365.

BACHELARD, Gaston. A filosofia do não. Trad. Remberto F. Kuhnen. São Paulo: Ed. Abril, 1974a. –(Coleção Os Pensadores).

BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tra. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

BACHELARD, Gaston. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.

BACHELARD, Gaston. Le matérialisme rationnel [1953]. Paris: P.U.F., 2000.

BACHELARD, Gaston. O novo espírito científico. Trad. Remberto F. Kuhnen. São Paulo: Ed. Abril, 1974. –(Coleção Os Pensadores).

BACHELARD, Gaston. O Racionalismo Aplicado[1949]. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1977.

CANGUILHEM, Georges et al. Du développement à l’évolution au XIX siècle. Paris: Presses Universitaires de France, 2003. – (Quadrige: Grands Textes).

CANGUILHEM, “L’objet de l’histoire des sciences”. In. Études d’histoire et de philosophie des sciences: concernant les vivants et la vie. 2a. ed. aum. Paris: J. Vrin, 2002.

CANGUILHEM, Georges. “L’évolution du concept de méthode de Claude Bernard à Gaston Bachelard”. In: CANGUILHEM, Georges. Études d’histoire et de philosophie des sciences: concernant les vivants et la vie. 2ª ed. aum. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 2002a. – (Problemes & Controverses).

CANGUILHEM, Georges. “L’histoire des sciences dans l’œuvre epistemologique de Gaston Bachelard”. In: CANGUILHEM, Georges. Études d’histoire et de philosophie des sciences: concernant les vivants et la vie. 2ª ed. aum. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 2002b. –(Problemes & Controverses).

COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. Tradução de José Arthur Giannotti. São Paulo: Nova Cultural, 1996. –(Os Pensadores).

FOUCAULT, Michel. “A vida: a experiência e a ciência”. In: FOUCAULT, Michel. Ditos & Escritos II. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Trad. Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005a.

FOUCAULT, Michel. “Sobre a arqueologia das ciências. Resposta ao Círculo de Epistemologia”. In: FOUCAULT, Michel. Ditos & Escritos II. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Trad. Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005b.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 3a. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987. –(Campo Teórico).

GUTTING,Gary. “Thomas Kuhn and the French philosophy of science”. In: NICKLES, Thomas. Thomas Kuhn. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

KOYRÉ, “Da influência das concepções filosóficas sobre a evolução das teorias científicas”. In: Estudos de história do pensamento filosófico. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

KOYRE, Alexandre. “Orientation et projets de recherches”. In: KOYRE, Alexandre. Études d’histoire de la pensée scientifique. Paris: Gallimard, 2003b.

KOYRÉ, Alexandre.Du monde clos à l’univers infinit. Trad. Raissa Tarr. Paris: Gallimard, 2003a. –(Tel; 129).

KOYRÉ, Alexandre. Etudes Galiléenes. Paris: Hermann et Cie, 1939. –(Histoire de la Pensée).

KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. Trad. Beatriz Vianna Boeira; Nelson Boeira. 5a. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.

LECOURT, Dominique. Pour une critique de l’épistémologie. Paris: Maspero, 1972.

LECOURT, L’épistémologie historique de Gaston Bachelard. 11a. ed. aum. Paris, J. Vrin, 2002.

METZGER, Hélène. “La philosophie d’Émile Meyerson et l’histoire des sciences”. In: METZGER, Hélène. La méthode philosophique en histoire des sciences. Paris: Fayard, 1987.

MEYERSON, Émile. La décuction relativiste. Paris: Payot, 1925.

PARROCHIA, Daniel. “La lecture bachelardienne de la théorie de la relativité”. In: WUNENBURGER, Jean-Jacques (org). Bachelard et l’épistémologie française. Paris: P.U.F., 2003.

Downloads

Publicado

2019-08-01

Como Citar

ALMEIDA, T. S. PENSAR O TEMPO PARA CONSTRUIR UM MÉTODO: A DESCONTINUIDADE HISTÓRICA EM GASTON BACHELARD. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 21, n. 1, p. 168–190, 2019. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/51181. Acesso em: 28 mar. 2024.