Justiça e contradição. Dissídio e reconciliação(?) na interpretação do sofista antifonte no século XX

Autores

  • Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho Universidade de São Paulo, Faculdade de Direito, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, nunorfdireito@gmail.com

DOI:

https://doi.org/10.5216/rfd.v42i3.56537

Palavras-chave:

Antifonte, Antilogia, Sofística, Dissídio, Contradição

Resumo

Este artigo examina as diferentes interpretações oferecidas por especialistas no século XX acerca da estrutura antilógica dos textos de Antifonte, intelectual Ateniense do Séc. V. a.C. autor do mais extenso conjunto de textos de que nos chegou da Sofística, entre os quais discursos forenses e fragmentos filosóficos que exercitam a antilogia como o poder de fazes dois discursos opostos sobre qualquer assuntos (na tradição de Protágoras) e problematizam fortemente o clássico binômico justiça natural e justiça convencional. As interpretações contemporâneas de Bignone, Untersteiner, Caizzi, Cassin e Gagarin enfatizam o caráter antilógico dos textos, mas são comuns em tentar encontrar, neles ou a partir deles, alguma forma de superação do dissídio e da contradição que os caracteriza. O presente estudo sugere que, ao fazê-lo, os especialistas estudados deixam de perceber aquele que talvez seja o traço central do pensamento de Antifonte, autor que estaria empenhado precisamente em mostrar o caráter insuperável do dissídio e da contradição que marcam a experiência humana do sentir, do pensar e do falar.

Abstract

This article examines the different interpretations offered by contemporary experts on the antilogical structure of the texts of Antiphon, Ancient Athenian intellectual author of the most extensive set of texts that came to us from Sophistry – including forensic discourses and fragments philosophical philosophers, which exercise Antilogiae as the power to make two opposing discourses on any subject (in the tradition of Protagoras) and strongly problematize the classical binomial natural justice and conventional justice. The interpretations of Bignone, Untersteiner, Caizzi, Cassin, and Gagarin emphasize the antilogical character of texts, but they are common in trying to find, in or from them, some way of overcoming the dissidence and the contradiction that characterizes them. The present study suggests that, in doing so, the specialists studied fail to perceive what is perhaps the central feature of Antiphon's thought, an author who would be striving precisely to show the insuperable character of dissidence and contradiction that mark the human experience in feeling, thinking and speaking.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho, Universidade de São Paulo, Faculdade de Direito, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, nunorfdireito@gmail.com

Referências

ANCILLA TO THE PRE-SOCRATIC PHILOSOPHERS: a complete translation of the fragments in Diels, "Fragmente der Vorsokratiker". Trad. Kathleen Freeman. Oxford: Harvard University Press, 1983.

ANTIFONTE. Testemunhos, fragmentos, discursos. Trad. Luis Felipe B. Ribeiro. São Paulo: Loyola, 1998.

ANTIPHON. The fragments. Trad. Gerard J. Pendrick. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

ANTIPHON. Discours suivis des fragments d’Antiphon le Sophiste. Trad. Louis Gernet. Paris: Société d’Edition “Les Belles Lettres”, 1965.

ANTIPHON. The speeches. Trad. Michael Gagarin. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

ANTIPHONTE. Tetralogie. Trad. Fernanda Decleva Caizzi. Milano: Istituto Editoriale Cisalpino, 1969.

ARISTÓTELES. Rhetoric. Transl. J. H. Freese. Cambridge and London: Harvard University Press; William Heinemann, 1926.

FRAGMENTE DER VORSOKRATIKER. Hermann Diels, Walther Kranz. Hidessheim: Weidmann, 1989.

GREEK ORATORS - I. Antiphon & Lysis. Trad. M. Edwards, S. Isher. 3. ed. Wiltshire: Aris & Phillips Publishers, 1993.

LAÉRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Trad. Mário da Gama. Brasília: UnB, 2008.

PLATÃO. As leis. Trad. Francisco de P. Samaranch. In: PLATON. Obras completas. Madri: Aguilar, 1974, p. 1274-1516.

______. Protágoras. Trad. Francisco de P. Samaranch. In: PLATON. Obras completas. Madri: Aguilar, 1974, p. 160-195.

______. Teeteto. Trad. Jose Antonio Miguez. In: PLATON. Obras completas. Madri: Aguilar, 1974, p. 887-941.

SOFISTAS. Testemunhos e fragmentos. Trad. Ana A. A. Souza, Maria J. V. Pinto. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2005.

THE FIRST SOPHISTS. Trad. Robin Waterfield. Oxford: Oxford University Press, 2000.

THE GREAT SOPHISTS. Translation, introduction and notes by John Dillon and Tania Gergel. London: Penguin Books, 2003.

AGUIAR, Giovânio. Ambivalência e relativismo nos dissoì lógoi. Belo Horizonte: 2006, 130 f. (Dissertação de mestrado – Curso de Pós-Graduação em Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais).

BIGNONE, Ettore. Antifonte oratore e Antifonte sofista. Urbino: Argalia, 1919.

BRETONE, Mario; TALAMANCA,, Mario. Il diritto in Grecia e a Roma. 2. ed. Bari: Laterza, 1994.

CAIZZI, Fernanda Decleva. Protagoras and Antiphon: sophistic debates on justice. In: LONG, A. A. (ed.) The Cambridge companion to early Greek philosophy. 10. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2008, pp. 311-331.

CAPIZZI, Antônio. La confluence dês sophistes à Athènes aprés la mort de Péricles et sés conexions avec lês transformations de la societé attique. In: CASSIN, Barbara. (Ed.) Positions de la sophistique. Paris: Vrin, 1986, p. 166-177.

CASSIN, Bárbara. Ensaios sofísticos. Trad. Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Siciliano, 1990.

______. O efeito sofístico. Sofística, filosofia, retórica, literatura. Trad. Ana Lúcia de Oliveira, Maria Cristina Franco Ferraz, Paulo Pinheiro. São Paulo: Ed. 34, 2005.

COELHO, Nuno M. M. S. Direito, Filosofia e a humanidade como tarefa. Curitiba: Juruá, 2011.

______. Pessoa, Igualdade (Isegoria) e Controvérsia. Notas sobre o sentido da ideia de Direito, (co)fundadora da experiência civilizacional ocidental. Revista da Faculdade de Direito do Sul de Minas, v. 25, p. 183-192, 2007.

______. Pensamento jurídico e Antilógica em Antifonte - contribuição grega à construção da Dogmática Jurídica In: Filosofia e Teoria Geral do Direito – Homenagem a Tercio Sampaio Ferraz Junior, p. 897-915, 2011.

COHEN, David; GAGARIN, Michael. (Eds.). The Cambridge Companion to ancient Greek law. New York: Cambridge University Press, 2005.

DODDS, E. R. Os gregos e o irracional. Trad. Leonor Santos B. de Carvalho. Lisboa: Gradiva, 1988.

DUPRÉEL, Eugéne. Les sophistes. Protagoras, Gorgias, Prodicus, Hippias. Bruxelas: Éditions du Griffon, 1948.

GAGARIN, Michael. Antiphon the Athenian. Oratory, law, and justice in the age of the sophists. Austin: university of Texas, 2002.

______. The truth of Antiphon's Truth. In: PREUS, Anthony. Essays in Ancient Greek philosophy VI. Before Plato. New York: State University of New York Press.

GERNET, Louis. Droit et sociéte dans la grèce ancienne. Paris: Recueil Sirey, 1955.

GIL, Luis. Sobre como imaginar la ????? ??????? de Antifonte el Sofista. In: CALDERÓN, E., MORALES, A., VAVERDE, M. (Ed.) Koinòs logos. Homenaje al profesor José Garcia López. Murcia, 2006, p. 337-343.

GOODY, Jack; WATT, Ian. As consequências do letramento. Trad. Waldemar Ferreira Netto. São Paulo: Paulistana, 2006.

GUTHRIE, W. K. C. Os sofistas. Trad. João Resende Costa. São Paulo: Paulus, 1995.

HARRISON. A. R. W. The law of Athens. Volume I. London: Gerald Duckworth; Indianopolis/Cambridge: Hackett Publishing, 1984.

HAVELOCK, Eric. A. A Revolução da escrita na Grécia e suas consequências culturais. Trad. Ordep José Serra. São Paulo: UNESP, 1996. (B)

JAEGER, Werner. Paidéia. A formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira, 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2001.

KERFERD, G. B. O movimento sofista. Trad. Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2003.

LOPES, José Reinaldo de Lima Lopes. O direito na história: lições introdutórias. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MACDOWELL, Douglas M. The law in classical Athens. New York: Cornell University Press, 1978.

MARCIC, René. Geschichte der Rechtsphilosophie. Schwerpunkte-Kontrapunkte. Freiburg: Rombach, 1971.

MARQUES, Marcelo Pimenta. A significação dialética das aporias no Eutidemo de Platão. Revista Latinoamericana de Filosofia, v. XXIX, n.1, p. 5-32, outono 2003.

______. O sofista: uma invenção platônica? Kriterion, v. 102, 2000, p. 66-88.

______. Platão. Pensador da diferença. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2006.

______. Os sofistas: o saber em questão. In: FIGUEIREDO, Vinicius (org.) Filósofos na sala de aula. Vol. 2. São Paulo: Berlendis&Vertecchia, 2007.

MOMIGLIANO, Arnaldo. Sul pensiero di Antifonte il sofista. Rivista di filologia e istruzione classica, n. 8, 1930, p. 129-40.

RIBEIRO, Luís Felipe Bellintani. Prefácio. In: Antifonte. Testemunho, fragmentos, discursos. São Paulo: Loyola, 2008.

RUBIN, Leslie G. (Ed.) Justice v. law in Greek political thought. Oxford: Rowman & Littelfield, 1997.

SILVA, Anna Christina da. A arte da contradição na primeira Tetralogia de Antifonte. Belo Horizonte: 2005, 201 f. (Dissertação de mestrado – Curso de Pós-Graduação em Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais).

SNELL, Bruno. A cultura grega e as origens do pensamento europeu. Trad. Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2001.

SOLMSEM, Friedrich. Intellectual experiments of the Greek enlightenment. Princeton University, 1975.

SOUZA, Raquel de. O Direito grego antigo. In: WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de história do direito. 2. ed. Belo Horizonte, 2004, p. 59-94.

TODD, S. C. The shape of Athenian law. Oxford: Oxford University Press, 1993.

THÜR, Gerhard. The role of witness in Anthenian law. In: GAGARIN, Michael; DCOHEN, David (Org.). The Cambrigde companion to Ancient Greek law. New York: Cambridge University Press, 2005, p. 149-150.

UNTERSTEINER, Mario. I Sofisti. Milão: Bruno Mondadori, 2008.

______. Sofisti,Testimonianze e Frammenti. Vol. IV, Firenze: La Nuova Italia, 1967.

VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. Ísis Borges B. da Fonseca. São Paulo: Bertrand Brasil, 1989.

VERNANT, Jean-Pierre; VIDAL-NAQUET, Pierre. Mito e tragédia na Grécia antiga. Trad. Anna Lia A. de Almeida Prado et al. São Paulo: Perspectiva, 2005.

LIDDELL, Henry George; SCOTT, Robert. A Greek-English Lexicon. Oxford. Clarendon Press. 1940. Disponível em: . Acesso em: 14/10/2010.

Downloads

Publicado

2019-01-19

Como Citar

MANUEL MORGADINHO DOS SANTOS COELHO, N. Justiça e contradição. Dissídio e reconciliação(?) na interpretação do sofista antifonte no século XX. Revista da Faculdade de Direito da UFG, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 85–113, 2019. DOI: 10.5216/rfd.v42i3.56537. Disponível em: https://revistas.ufg.br/revfd/article/view/56537. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos Científicos