Direito, devir negro e conflito ecológico distributivo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5216/rfd.v42i2.56534

Palavras-chave:

Direito, Escravismo, Ecologia Política, Conflitos ecológicos distributivos, Comunidades Negras

Resumo

O escravismo colonial, como vetor de um processo de organização do capital e de construção de um sistema mundo, engendra uma perene desqualificação do Negro e o coloca às margens do mundo ocidental, transformando-o, no mundo globalizado contemporâneo, em sujeito de conflitos ecológicos distributivos, na luta por seus direitos. A partir disso e na perspectiva do direito, propõe-se refletir sobre a condição histórica do Negro como agente central e sujeito da luta e da resistência na conformação do capitalismo, para ressignificar o papel desses sujeitos de direito e de suas lutas nos conflitos originários do desenvolvimentismo globalizado. Faz-se uma abordagem analítica na literatura especializada sobre escravidão. Os conflitos ecológicos foram pensados a partir da ecologia política e o racismo foi abordado a partir da filosofia e da história críticas. Dos resultados, têm-se que o regime escravocrata foi central na construção do sistema mundo capitalista e que o direito estatal moderno serviu a instituição desse regime, negando a condição de sujeitos de direito aos escravizados.  O direito moderno legitimou a hegemonia dos senhores de escravos e a inexistência de direitos aos cativos, mas criou as condições necessárias para a insurgência e o devir de resistência do ser escravizado, no âmbito de sua humanidade prorrogada.  Essa resistência é perene diante do avanço das fronteiras do progresso, que invadem os territórios tradicionais ocupados pelos excluídos do direito no sistema capitalista, sobretudo os Negros. Instalam-se conflitos ecológicos distributivos e no âmbito deles as gentes resistem e os massacres acontecem. O racismo, como processo histórico continua.

Abstract:

The colonial slavery, as a vector of a process of capital organization and the construction of a world system, engenders a perennial disqualification of the Black people and places it on the margins of the Western world, transforming it into a subject of ecological conflicts in the contemporary globalized world distributive, in the fight for their rights. From this and from the perspective of law, it is proposed to reflect on the historical condition of the Negro as a central agent and subject of struggle and resistance in the conformation of capitalism, to re-signify the role of these subjects of law and their struggles in the conflicts originated in the development. An analytical approach is made in the specialized literature on slavery. The ecological conflicts were thought from the political ecology and the racism was approached from the critical philosophy and history. From the results, it is shown that the slave system was central to the construction of the capitalist world system and that modern state law served the institution of this regime, denying the condition of subjects of law to the enslaved. Modern law legitimized the hegemony of the slave owners and the lack of rights to the captives but created the necessary conditions for the insurgency and the becoming of resistance of the enslaved, within the scope of his extended humanity. This resistance is perennial in the face of the advance of the frontiers of progress, which invade the traditional territories occupied by those excluded from law in the capitalist system, especially the Blacks. Distributive ecological conflicts are set up and within them people resist and massacres happen. Racism as a historical process continues.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria Cristina Vidotte Blanco Tárrega, Universidade Federal de Goiás (UFG), Faculdade de Direito, Goiânia, Goiás, Brasil, mcvidotte@uol.com.br

Referências

ALIMONDA, H.; TORO PEREZ, C.; MARTIN, F. Ecologia política latino-americana. Buenos Aires: CLACSO, 2018.

ALVARADO, G. et al. Gestión ambiental y conflicto social en América Latina, Buenos Aires: CLACSO, 2008.

AMIN, S.; HOUTART, F. Mundialização das Resistências: O estado das lutas 2003. São Paulo, Cortez, 2003.

BARRICK GOLD CORPORATION. Barrick’s Compliance Hotline. Disponível em https://secure.ethicspoint.com/domain/media/en/gui/41012/index.html (acesso em 27-01-2016).

______. Code of Business Conduct and Ethics, rev. October 30, 2015 acesso em 20/10/2018.

CAMBAZA, V. A terra no contexto do desenvolvimento da indústria mineira: pressões e conflitos em torno dos duats. In: BRITO, L. et al., Desafios para Moçambique. Maputo, IESE, 2010, p.217-227.

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Caderno de Conflitos 2017. Goiania: CPT, 2018.

CONAQ. Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras e Rurais Quilombolas e TERRA DE DIREITOS. Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, 2018. Disponível em www.terradedireitos.org. Acesso em 30/09/2018.

COUMANS, C. (2002), Placer Dome Case Study: Marcopper Mines. Disponível em http://miningwatch.ca/. Acesso 27/01/2018.

DELGADO RAMOS, G. C. (coord.) Ecologia Politica de la Minería en América Latina: Aspectos socioeconómicos, legales y ambientales de la mega minería. Mexico, UNAM. 2010.

DUKES, E. F. What We Know About Environmental Conflict Resolution: An Analysis Based on Research. In: Conflict Resolution Quarterly, vol. 22, 2004, n. 1–2, pp. 191-220.

EJOLT. Barrick Gold Corporation. In: Environmental Justice Atlas. Disponível em http://ejatlas.org/company/barrick-gold-corporation. Acesso 27/09/2018.

ESCOBAR, A. Ecologia Politica de la globalidad e la diferencia. In: ALIMONDA, H. La naturaliza colonizada. Ecologia Politica y minería en America Latina. Buenos Aires: CLACSO, 2018.

FERNANDES, F.; ALAMINO, R.; ARAÚJO, E. Recursos Minerais e Comunidade: Impactos humanos. Socioambientais e econômicos. Rio de Janeiro, CETEM, 2014.

GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo. Expressão Popular, 2016.

______. A escravidão reabilitada. São Paulo. Expressão Popular, 2016.

GREYL, L. Pascua Lama Mine, Argentin. In: Environmental Justice Atlas. Disponível em http://ejatlas.org/conflict/pascua-lama-mine-argentina. Acesso 29/09/2018.

GRÜNER, E. La obscuridad y las luces. Capitalismo, cultura y revolución. Buenos Aires, EDHASA, 2010.

KEMP, D.; OWEN, J.; GOTZMANN, N.; BOND, C. Just Relations and Company –Community Conflict in Mining. In: Journal of Business Ethics. 101: 93–109 Springer 2010.

MARTINEZ-ALIER, J. Mining conflicts, environmental justice, and valuation. In: Journal of Hazardous Materials n.86, 2001, pp. 153–170.

MARTINEZ-ALIER, J. The Environmentalism of the Poor: A Study of Ecological Conflicts and Valuation. Cheltenham, Edward Elgar, 2002.

MARTINEZ-ALIER, J. et al. (2010), Social metabolism, ecological distribution conflicts, and valuation languages. In: Ecological Economics Volume 70, Issue 2, p. 153-158.

MARTINEZ-ALIER, J. et al. (2011), Between science and activism: learning and teaching ecological economics with environmental justice organizations. In: Local Environment: The International Journal of Justice and Sustainability, Volume 16, Issue 1, 2011, p. 17-36.

MBEMBE, A. Crítica da Razão Negra. Lisboa, Antígona, 2014.

PÉREZ CEBADA, J. D. Tierra devastada. Historia de la contaminación minera, Madrid, Síntesis. 2014.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp, 2007.

______. Tempo e Narrativa. Campinas: Ed. Papirus, 1994.

SAES, Décio Azevedo Marques de. O lugar da noção de sujeito na sociedade capitalista. Lutas Sociais, São Paulo, n.29, p.09-20, jul./dez. 2012. Disponível em http://www4.pucsp.br/neils/downloads/neils-revista-29-port/decio-azevedo-marques.pdf. Acesso em 09/09/2018.

SAUER, Sergio. Terra no século XXI: Desafios e perspectivas da questão agrária

Retratos de assentamentos. v.19, n.2, 2016.

SCHWARCZ, L.M. Nem preto nem branco, muito pelo contrário. Cor e raça na sociedade brasileira. São Paulo, Claro Enigma, 2012.

SERRA, O. Os Olhos Negros do Brasil. Salvador: EDUFBA, 2014.

SOTO FERNÁNDEZ, D. et all. La protesta campesina como protesta ambiental. Siglos XVIII-XX". In: História Agraria, 42, agosto, pp. 31-55. 2007.

SZASZ, A. EcoPopulism: Toxic Waste and the Movement for Environmental Justice, Minneapolis, University of Minnesota Press, 1994.

TARREGA, Maria Cristina Vidotte Blanco. A construção narrativa do conceito de sujeito de direito e justiça. Revista da Faculdade de Direito da UFG, 35, 2012.

______. Ressignificação do Quilombo pelo Resgate dos Rastros no Constitucionalismo Democrático Latinoamericano. In SANTOS, Boaventura de Souza. e CUNHA, Teresa. Anais do Colóquio Internacional Epistemologias do Sul. Coimbra. 2015.

TEMPER, L.; Bene, D.; Martinez-Alier, J. Mapping the frontiers and front lines of global environmental justice: the EJAtlas. In: Journal of Political Ecology, 2015, 22: 255-278.

VISO, N.; Ramiro, P.; Bustelo, M. Conflictos socioecológicos: retos y perspectivas, Madrid, Centro de Investigación para la Paz (CIP-Ecosocial), 2012.

Downloads

Publicado

2019-01-04

Como Citar

CRISTINA VIDOTTE BLANCO TÁRREGA, M. Direito, devir negro e conflito ecológico distributivo. Revista da Faculdade de Direito da UFG, Goiânia, v. 42, n. 2, p. 120–140, 2019. DOI: 10.5216/rfd.v42i2.56534. Disponível em: https://revistas.ufg.br/revfd/article/view/56534. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos Científicos