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Dossiê: LEGADOS AUTORITÁRIOS E DESAFIOS DEMOCRÁTICOS: DITADURA NO BRASIL E REVOLUÇÃO DOS CRAVOS EM PORTUGAL

Coordenadores:

Aguinaldo Rodrigues Gomes (UFMS/CPAQ)
João Pedro Rosa Ferreira (Nova de Lisboa)
Thaís Leão Vieira (UFMT)

Diversos caminhos se abrem para estabelecer um diálogo entre o 25 de abril, que pôs fim à ditadura salazarista e o contexto ditatorial brasileiro (1964-1985). Parte dos estudos historiográficos sobre a interface entre Portugal e Brasil nesse período analisa o tema do exílio, principalmente por meio daqueles que estavam no Brasil durante a ditadura e que retornaram a Portugal nos anos de 1974 e 1975. A reflexão não se restringe aos exilados residentes no Brasil, mas se estende aos indivíduos que vivenciaram o regime ditatorial em território brasileiro. A partir do mencionado evento em abril, estes últimos passaram a considerar Lisboa e Portugal, de maneira abrangente, como um ambiente propício para a experiência de seus exílios. Assim, como Chico Buarque e Augusto Boal anos depois se exilaram em Portugal, personalidades como Leonel Brizola destacam-se, evidenciando a existência de um diálogo significativo entre a social-democracia portuguesa, a esquerda europeia da época e a esquerda brasileira. Portugal, neste contexto, assume um papel emblemático de esperança para o Brasil, então imerso na ditadura. Os versos de Chico Buarque, "lá faz primavera, pá, cá está doente," adquirem significado substancial em nossa realidade.

Marcando o fim do salazarismo e o início do processo de retomada das liberdades civis em Portugal, tanto políticas quanto civis, o 25 de abril é caracterizado por uma expressiva coalizão e organização entre militares, intelectuais, juventude, artistas e políticos, especialmente aqueles ligados à esquerda portuguesa. Este evento torna-se um referencial para a realidade brasileira. Glauber Rocha, por exemplo, participou como entrevistador do filme coletivo "As Armas e o Povo", que apresenta o cotidiano daqueles dias. Portugal tornou-se um espaço crucial para a expressão de brasileiros no exílio, gerando publicações, protestos, moções da Assembleia da República portuguesa ao governo brasileiro e denúncias nos jornais portugueses contra a ditadura brasileira.
Por outro lado, a relação entre o governo ditatorial, especialmente durante o governo do general Ernesto Geisel (1974-9), pode parecer paradoxal. O governo adotou uma política externa que alguns consideraram progressista, mas estava intrinsecamente vinculada a preocupações econômicas e estratégicas. Com a estabilização democrática em Portugal e a consolidação da presença brasileira na África, novas preocupações surgiram na agenda política da ditadura militar brasileira. A democracia portuguesa passou a ser observada com cautela, refletindo a complexidade da relação entre a ditadura brasileira e os desdobramentos políticos em Portugal. A política externa pragmática, inicialmente orientada por interesses econômicos, enfrentou novos desafios diante da consolidação democrática em Portugal (Francisco Carlos Palomanes Martinho).

Assim, o presente dossiê propõe-se a ser um espaço de reflexão sobre temas como Ditaduras, Direitos Civis, Resistências, Legados Autoritários e Desafios Democráticos. Este momento histórico, marcado pelo ressurgimento global das extremas direitas, proporciona uma oportunidade para refletir sobre questões que conectam a ditadura no Brasil e a Revolução dos Cravos, completando 60 e 50 anos em 2024.

Data limite para submissões: 30 de abril de 2024